domingo, 24 de fevereiro de 2013

Louva-deus, luz e lâmpada

[Milton Nascimento, em Louva-a-deus]


O Louva-Deus se encanta
pela fluorescência
da lâmpada

Veio a mosca a lhe perturbar
Sem saber que já está na hora de cear

Seduzido pela luz da lamparina moderna,
Ele olha a luz divinal e limpa
seus olhos com as lâminas límpidas
e finas que são suas patas.

Mexe suas antenas para
aquela luz incandescente
que ele acha que é deus

E o encontro é mágico
Se para o Louva-Deus
a Luz é Deus
ele está a louvar
repousando suas patas
que descem
e louvam a luz de deus.

E, assim, ele agradece,
a comida recebida.

NHACK!!!!

Emboici (Mãe-de-Cobra).

Entre caixas, sobre caixas, nas caixas

Os corpos se entendem, mas as almas não, disse Bandeira, mas mesmo assim, mesmo assim não me conformo e busco, a toda hora, desesperadamente, que corpos e palavras se traduzam e completem o incompleto, o para sempre inconcluso, o para sempre sem palavras para dizer.
Que corpos e palavras façam que dois se queimem, pois línguas são várias e se entrelaçam e se molham e não se dizem, pois não fazem duas coisas ao mesmo tempo, em sua precariedade, mas uma só palavra misturada com o cheiro do teu corpo, uma palavra só em que seu corpo se transfigure, ela sim ela, sim, me fará morrer de puro gozo, puro estremecimento.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Entre águas e anáguas


Há uma chuva ensaiada
que, sem saia e sem nada,
tenta não sair das anáguas
porque águas anãs
não a satisfaz

Anáguas servem apenas 
para estar por baixo
o famoso sob
ou
debaixo de
e a chuva,
vem de cima
e nos molha sob
e nos molha sobre
e nos deixa úmidas
molhadas

E entre o sob e o sobre
dessa chuva ensaiada
nada cai
nem a saia
nem a anágua
nem as gotas de chuva
que me deixariam 
molhada.