terça-feira, 15 de março de 2011

Bocaoca

A borboleta laranja enomorou-se do vento.
Ele a castigava. Empurrava-a contra as crateras labirintos
das formigas.
Ela resistia.
Inerme como uma boca pintada com as cores do último verão.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Gatobrás


[Brás Cubas desdenhando da TV, 2007]


Do alto, salto,
Sou um tigre feroz.

Minha silhueta felina,
Contempla o tempo atroz.

Meus olhos, verdes esmeraldas,
Procuram por alguém que se foi.

E, na vaguidão do espaço,
Procuro-lhe para dizer Oi.


Hoje fiquei com muita saudade de meu gato Brás Cubas...Resolvi, então, fazer esse post em homenagem a ele. Porque...simplesmente...ele foi único e, talvez, isso aplaque um pouco a Saudade.
Além da foto, segue um poema que fiz para ele. 




[Eu e Brás, indo para Ilha do Mel, 2007]

domingo, 6 de março de 2011

siririca poética

A imagem no monitor projetava uma bucetinha infantil. Como uma lagarta sem pêlos. Os dedos pouco umedecidos pareciam roçar suas pontas às portas daquele que, antes, era considerado um santuário. Não é mais. Agora é uma lona circense vermelha e amarela, com luzes de ribalta a tilintar dentro de si. Risos explodiam, dentro e fora, vindos de uma platéia idiotamente enlouquecida a praticar o voyeurismo moralizante.  

Ela estava exposta. Nuamente exposta. Os fotogramas expunham sua intimidade. Sua própria invasão permitida, com os dedos a tocar sua intimidade agora não mais íntima, mas coletiva. Mulheres, homens, adolescentes, bichas e sapatas deliciavam-se batendo punhetas e siriricas com aquele pequeno cântaro que se exibia no monitor.

terça-feira, 1 de março de 2011

Mon Amour

Essa linda canção e história de amor deve-se ao meu amor. Todos os créditos.
A animação é fantástica, a música linda e a menção ao Jogo da Amarelinha, de Cortázar é para abrilhantar a vida.





O Jogo da Amarelinha - Capítulo 7
 

Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.
 Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.



[Júlio Cortázar]
[Tradução de Fernando de Castro Ferro]




[Essa canção francesa - Thiago Pethit e Tiê]