segunda-feira, 9 de abril de 2012

Diário de Dublin, Edinburgo e Glasgow

De Porto para Irlanda e Escócia:

Meu companheiro de viagem por Irlanda e Escócia foi Al Berto. Em O anjo mudo (1993), também um livro de viajante, acabei por encontrar mais que um companheiro. No primeiro texto Aprendiz de Viajante, o poeta diz ter lido em algum lugar que 'viajar cura a melancolia'. Coloco-me, então, nesse lugar de viajante e penso comigo o que viajar me significa. Se para Al Berto, viajar talvez servisse para 'curar a melancolia', penso que tanto para ele quanto para mim, não sei se curou. Permaneci melancólica durante esses oito dias. Penso que o clima irlandês, a neve caindo em Edinburgo e o vazio em Glasgow contribuíram para que o sentimento da melancolia permanecesse.

[Encontrando Joyce no Saint Stephen's Green - Dublin/Irlanda]

O frio da Irlanda, irmanado aos encontros com James Joyce e Oscar Wilde reativaram memórias literárias e pessoais. Refazer alguns passos de Leopold Bloom e Stephen Dedalus permitiram criar minha própria Odisséia. É indescritível pensar o quanto ficção e realidade se confundem quando penetramos esses espaços narrados e descritos nos romances. Minha surpresa ficou por conta da Ponte (Dublin é cheia delas) de James Joyce. Uma ponte, remodelada em 2003 por Santiago Calatrava, toda moderninha arquitetonicamente, contrastando, inclusive, com todo o espaço circundante. Já Oscar Wilde, continua em sua pose abusada no Oscar Wilde Memorial, na Merrion Square. Tanto Joyce quanto Wilde me trouxeram memórias adolescentes  e recentes. Mas memórias felizes e não melancólicas.

[Ponte James Joyce - Dublin/Irlanda]

[Encontrando o lânguido Oscar Wilde, na Merrion Square - Dublin/Irlanda]

A neve caindo no caminho do Castelo de Edinburgo lembrou minha cidade natal, quando, ainda criança vi a neve cair, pequena, macia, leve e efêmera sobre mim, enquanto voltava de uma aula de catecismo. A diferença, depois de tantos anos, é que a neve cresceu. Os flocos eram maiores, a quantidade e a intensidade também...mas não deixou de ser pequenas nuvenzinhas a cobrirem o casaco viajante de Jô.
Sim, minha grande salvação nesse frio gélido europeu foi o casaco negro que Jojô me emprestou. Com ele atravessei rios, montanhas e castelos. Foi minha armadura, diga-se de passagem, nesse espaço de cavaleiros, reis e vitórias.

[O Castelo de Edinburgo - Edinburgo/Escócia]
O vazio de Glasgow foi preenchido pelo belíssimo passeio no Jardim Botânico. A ida até lá foi, por si só, interessante. O metro em Glasgow é antiguíssimo, são trens pequenos que parecem o início de tudo. E como tremem. O que ficou dessa cidade escocesa foi que, em dois dias, andamos de metrô, de ônibus e de trem, para confirmar, segundo os folhetos turísticos, que a Escócia possui o melhor sistema de transporte da Europa. Também ficou a tristeza de ter perambulado pouco pela cidade. O cansaço de fim de viagem não permite essas deambulações. O que foi uma pena, pois um passeio pelo mapa da cidade (depois que conseguimos um mapa decente), revela uma cidade encantadora, cheia de charme e de coisas a serem descobertas. Infelizmente, o tempo urge e precisávamos chegar a Prestwick para pegar o avião e voltar para a casa não casa: Porto.

[Jardim Botânico - Glasgow/Escócia]
Ao fim e ao cabo, ficou-me a frase de Al Berto - "Sou um viajante que coleciona dúvidas, ao mesmo tempo que deita fora as poucas certezas que tinha", meu companheiro andante.

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